sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Mais qualidade de vida para pacientes com Aids

Composto bioativo poderá reduzir efeitos colaterais da terapia antiretroviral.
O Brasil vem passando por um processo de inversão nas curvas de mortalidade humana, denominado transição epidemiológica. Nessa situação, observa-se um declínio na mortalidade por doenças infecciosas - como é o caso da Aids - e um simultâneo aumento na mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. A epidemia de Aids atualmente no país é considerada estável, assumindo um caráter semelhante à doença crônica, devido ao uso da terapia antiretroviral de alta potência (TARV) nos pacientes infectados pelo vírus HIV.

A TARV é uma terapia que utiliza um conjunto de medicamentos para tratar as infecções causadas pelo HIV. Contudo, esses medicamentos não matam o vírus, apenas reduzem seu crescimento. Quando o vírus diminui, o mesmo acontece com a infecção e complicações por ele causadas.

Países como o Brasil, que optaram pelo acesso universal ao tratamento da TARV na década de 1990, determinaram a mudança na história natural da doença. Além da oferta universal da TARV de alta potência, a estruturação do sistema de saúde foi fundamental para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com a Aids.

Porém, mesmo reconhecendo-se os inúmeros benefícios da TARV aos pacientes com Aids, sua administração não é tão simples quanto parece. Muitas pessoas infectadas com o HIV não conseguem tolerar os efeitos colaterais das drogas. A adaptação se torna difícil devido, muitas vezes, ao grande número de comprimidos e aos complexos regimes de tratamento. A fraca aderência à terapia leva ao surgimento de resistência às drogas, o que se torna ainda mais difícil de tratar. É necessária uma constante monitorização dos doentes para se avaliar a resposta ao tratamento.

Foi buscando uma melhoria na qualidade de vida das pessoas que se tratam com a terapia antiretroviral, que a nutricionista Rosângela dos Santos Ferreira, pesquisadora da Fundect, coordena um projeto de pesquisa que propõe o uso de um composto alimentar para evitar o desenvolvimento de algumas doenças que acometem essas pessoas: "Já sabe-se que o uso da TARV acaba trazendo muitos efeitos colaterais aos pacientes, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, o que acaba complicando ainda mais o quadro clínico. Com a ingestão diária de um composto biativo natural, é possível obter um efeito cardioprotetor, além do controle glicêmico", afirma Rosângela.

O composto biativo é uma mistura de farelo de aveia, semente de linhaça e proteína texturizada de soja. Após a manipulação do composto, é realizada uma análise microbiológica e físico-química para saber se ele está nas proporções corretas e em condições de segurança alimentar. De acordo com a nutricionista, o composto será entregue em saquinhos plásticos lacrados, com 40g, que é a quantidade testada para os pacientes consumirem diariamente, podendo ser misturado em sopas, caldos, mingaus, sucos, salada de frutas e iogurtes.

A semente de linhaça contém substâncias como a lignana e o ácido graxo linolênico, os quais apresentam efeitos cardioprotetores apropriados para atuar como preventivo e terapêutico na regressão da aterosclerose e de conseqüentes doenças cardiovasculares. O farelo de aveia possui grande fonte dietética de B-glucana, própria para a manutenção e ajuste da glicemia dentro dos níveis de normalidade. Já a soja texturizada possui uma proteína que apresenta baixo teor de lipídeo saturado e colesterol em sua composição química, além da isoflavona, que também possui propriedades hipocolesterolêmicas.

Rosângela explica que a nutrição clínica funcional é uma forma contemporânea de abordar a ciência da nutrição, tendo como propósito avaliar a interação do organismo com o alimento e o processo da nutrição, levando em consideração a importância da integridade fisiológica e funcional do trato gastrintestinal. "É importante controlar os hábitos e processos alimentares dos pacientes com HIV positivo para interferir efetivamente nos efeitos colaterais advindos do uso da TARV. Justifica-se, então a busca por estratégias nutricionais que visem prevenir e participar do controle das adversidades decorrentes dos antiretrovirais nestes indivíduos", conlcui.

A pesquisadora declara ainda que, caso sejam comprovados os efeitos terapêuticos do composto bioativo, será proposta sua inclusão no Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST/AIDS, o que ampliará as ações promovidas pelo Programa, além de reduzir o número de internações hospitalares e aumentar a sobrevida dos pacientes.
(Assessoria de Comunicação Fundect)

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