sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Hepatite - Controle deve extrapolar área da saúde

Controle deve extrapolar área da saúde
Projeto Fundo Global TB - Brasil
A tônica das comemorações que marcaram a edição 2011 do dia estadual foi a defesa de uma abordagem holística da tuberculose que extrapole a área da saúde. Ao longo da programação realizada nos dias 8 e 9 deste mês, cientistas, autoridades, gestores, profissionais da saúde e representantes de ONG defenderam uma abordagem efetiva dos aspectos sociais que estão diretamente relacionados à infecção e ao adoecimento, como a fome, as más condições de moradia e de higiene, entre outros aspectos.

Durante a sessão solene da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) que concedeu, na última segunda-feira (dia 8), o Título de Benemérita do Estado à Fundação Ataulpho de Paiva (FAP), instituição responsável pela produção da vacina BCG no Brasil, seu presidente Germano Gerhardt Filho defendeu que o controle da tuberculose exige a redução dos determinantes sociais da doença em populações miseráveis e mais vulneráveis. Segundo ele, além do desenvolvimento técnico que permita o controle da co-infecção TB-HIV e das estirpes bacilos resistente e multirresistentes aos medicamentos, a tuberculose exige uma gestão pública e política mais qualificada.

Roberto Pereira, do Fórum Estadual de ONGs na Luta Contra a Tuberculose, sugeriu que os secretários estadual e municipal de saúde visitem as unidades de saúde como cidadãos e usuários do SUS, e não como autoridades, para que conheçam de fato esta realidade. “Precisamos de uma solução urgente que garanta o acesso de todos os pacientes e casos suspeitos aos exames e tratamento da tuberculose”, defendeu ele.

Claudio Costa Neto, químico e professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ratificou a tese de que a miséria é a maior causa desta e de outras doenças ditas tropicais. Segundo ele, durante o trabalho de campo na região de Vila Rosário, em Duque de Caxias, uma das regiões de maior incidência da doença no País, a relevância das questões sociais se impôs, direcionando o trabalho ao que ele chamou de “cadeia da miséria”, caracterizada por cinco elos: doença, fome, renda, educação e cultura.

A PhD em epidemiologia, Maria Lucia Penna, concorda: a chave para o controle efetivo e duradouro da doença é a melhoria das condições socioeconômicas, aumentando a resistência das pessoas ao bacilo. Segundo ela, este foi o fator responsável pela redução da tuberculose nos países desenvolvidos. Como não há imunização completa no caso da tuberculose, as políticas públicas devem extrapolar o diagnóstico precoce e o tratamento, como forma de eliminar as fontes de infecção. A vacina BCG não previne todas as formas de tuberculose. Com uma eficácia de 80% para as formas graves da doença, ela "simula" a primeira infecção natural sem seus riscos, impedindo principalmente as formas graves em crianças. Mas não impede entretanto o aparecimento de formas pulmonares infectantes em jovens e adultos, não interrompendo portanto a transmissão.

Reconhecimento
O título foi concedido à FAP por iniciativa da Frente Parlamentar de Combate ao HIV/Aids e Tuberculose em reconhecimento ao trabalho da instituição no combate à doença. Além da produção de vacinas BCG e Imuno BCG, a FAP atua na articulação, capacitação e fomento da mobilização social para controle da doença, promovendo a constante discussão e troca de experiências com representantes da sociedade civil e da academia tendo em vista uma abordagem holística da doença e seus determinantes sociais.

Margareth Dalcomo, do Instituo Hélio Fraga – Fiocruz, destacou que, mais que isso, a FAP foi a responsável pela ruptura de paradigmas muito conservadores no tratamento da tuberculose por obra e dedicação do homenageado, Germano Gerhaldt Filho, que enfrentou muita crítica e desconfiança, incluindo de organismos internacionais, quando defendeu que era possível abordar e curar a TB com tratamento de curta duração, numa época em que ainda se preconizava longas internações.

Para finalizar, o presidente da Frente Parlamentar, deputado Gilberto Palmares, anunciou duas importantes inciativas políticas: a articulação para a criação de uma central de internações do estado, que deverá acabar com as filas de espera e melhorar o aproveitamento dos leitos disponíveis em toda a rede; e a inclusão de indicadores da tuberculose entre os indicadores que nortearão o Programa Nacional de Erradicação da Miséria. “Esta é uma doença que persiste devido à miséria. Por isso, não temos que dialogar só com gestores de saúde, mas também com outras áreas como a habitação e a assistência social”, afirmou.

Mais qualidade de vida para pacientes com Aids

Composto bioativo poderá reduzir efeitos colaterais da terapia antiretroviral.
O Brasil vem passando por um processo de inversão nas curvas de mortalidade humana, denominado transição epidemiológica. Nessa situação, observa-se um declínio na mortalidade por doenças infecciosas - como é o caso da Aids - e um simultâneo aumento na mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. A epidemia de Aids atualmente no país é considerada estável, assumindo um caráter semelhante à doença crônica, devido ao uso da terapia antiretroviral de alta potência (TARV) nos pacientes infectados pelo vírus HIV.

A TARV é uma terapia que utiliza um conjunto de medicamentos para tratar as infecções causadas pelo HIV. Contudo, esses medicamentos não matam o vírus, apenas reduzem seu crescimento. Quando o vírus diminui, o mesmo acontece com a infecção e complicações por ele causadas.

Países como o Brasil, que optaram pelo acesso universal ao tratamento da TARV na década de 1990, determinaram a mudança na história natural da doença. Além da oferta universal da TARV de alta potência, a estruturação do sistema de saúde foi fundamental para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com a Aids.

Porém, mesmo reconhecendo-se os inúmeros benefícios da TARV aos pacientes com Aids, sua administração não é tão simples quanto parece. Muitas pessoas infectadas com o HIV não conseguem tolerar os efeitos colaterais das drogas. A adaptação se torna difícil devido, muitas vezes, ao grande número de comprimidos e aos complexos regimes de tratamento. A fraca aderência à terapia leva ao surgimento de resistência às drogas, o que se torna ainda mais difícil de tratar. É necessária uma constante monitorização dos doentes para se avaliar a resposta ao tratamento.

Foi buscando uma melhoria na qualidade de vida das pessoas que se tratam com a terapia antiretroviral, que a nutricionista Rosângela dos Santos Ferreira, pesquisadora da Fundect, coordena um projeto de pesquisa que propõe o uso de um composto alimentar para evitar o desenvolvimento de algumas doenças que acometem essas pessoas: "Já sabe-se que o uso da TARV acaba trazendo muitos efeitos colaterais aos pacientes, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, o que acaba complicando ainda mais o quadro clínico. Com a ingestão diária de um composto biativo natural, é possível obter um efeito cardioprotetor, além do controle glicêmico", afirma Rosângela.

O composto biativo é uma mistura de farelo de aveia, semente de linhaça e proteína texturizada de soja. Após a manipulação do composto, é realizada uma análise microbiológica e físico-química para saber se ele está nas proporções corretas e em condições de segurança alimentar. De acordo com a nutricionista, o composto será entregue em saquinhos plásticos lacrados, com 40g, que é a quantidade testada para os pacientes consumirem diariamente, podendo ser misturado em sopas, caldos, mingaus, sucos, salada de frutas e iogurtes.

A semente de linhaça contém substâncias como a lignana e o ácido graxo linolênico, os quais apresentam efeitos cardioprotetores apropriados para atuar como preventivo e terapêutico na regressão da aterosclerose e de conseqüentes doenças cardiovasculares. O farelo de aveia possui grande fonte dietética de B-glucana, própria para a manutenção e ajuste da glicemia dentro dos níveis de normalidade. Já a soja texturizada possui uma proteína que apresenta baixo teor de lipídeo saturado e colesterol em sua composição química, além da isoflavona, que também possui propriedades hipocolesterolêmicas.

Rosângela explica que a nutrição clínica funcional é uma forma contemporânea de abordar a ciência da nutrição, tendo como propósito avaliar a interação do organismo com o alimento e o processo da nutrição, levando em consideração a importância da integridade fisiológica e funcional do trato gastrintestinal. "É importante controlar os hábitos e processos alimentares dos pacientes com HIV positivo para interferir efetivamente nos efeitos colaterais advindos do uso da TARV. Justifica-se, então a busca por estratégias nutricionais que visem prevenir e participar do controle das adversidades decorrentes dos antiretrovirais nestes indivíduos", conlcui.

A pesquisadora declara ainda que, caso sejam comprovados os efeitos terapêuticos do composto bioativo, será proposta sua inclusão no Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST/AIDS, o que ampliará as ações promovidas pelo Programa, além de reduzir o número de internações hospitalares e aumentar a sobrevida dos pacientes.
(Assessoria de Comunicação Fundect)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

VACINA CONTRA HEPATITE C


Para calar de vez

Pesquisadores franceses desenvolvem vacina contra a hepatite C, doença que causa cirrose e câncer de fígado e que já se tornou uma “epidemia silenciosa”. O medicamento já mostrou bons resultados em testes com animais.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 08/08/2011 | Atualizado em 08/08/2011
Nova vacina contra a hepatite C deve ser testada em humanos no ano que vem. Mas, para isso, pesquisadores estão buscando recursos públicos. (foto: Danilevici Filip-E/ Sxc.hu)
A hepatite C é a principal causa de cirrose e de câncer de fígado no mundo. No Brasil, a doença já é uma epidemia, com 14.873 mortes registradas nos últimos dez anos. Não existe uma vacina para esse tipo de hepatite, que é o mais grave. Mas uma pesquisa publicada recentemente na Science Translational Medicine apresenta uma esperança: uma vacina que se mostrou eficiente em animais.
Desenvolvida por pesquisadores franceses, a nova vacina usa as chamadas ‘partículas semelhantes ao vírus’ (VLPs, na sigla em inglês) para induzir a produção de anticorpos neutralizantes do vírus da hepatite C (VHC) pelo sistema imune.
Essas partículas são uma espécie de ‘vírus oco’: têm as mesmas estruturas de um vírus, mas sem o material genético que o faz se replicar e causar a infecção. Ao serem injetadas na corrente sanguínea, as VLPs acionam a produção de anticorpos neutralizantes contra o vírus sem o risco de deixar a pessoa doente.
O VHC é altamente mutável e pode assumir várias formas. Essa característica faz com que 80% dos infectados não consigam se livrar do vírus e se tornem doentes crônicos, além de ser um empecilho para o desenvolvimento de vacinas.
A nova vacina contornou essa dificuldade. Por usar a estrutura externa do vírus, que não sofre tanta mutação quanto o seu material genético, ela foi capaz de induzir a produção de anticorpos que impediram a atuação das seis variações mais comuns do VHC, em macacos e camundongos.
VLP
As VLPs são semelhantes ao vírus: possuem a mesma carcaça de proteínas, mas não contêm o material genético que causa a infecção. (ilustração: Sofia Moutinho)
“Foi um feito extraordinário”, diz o líder da pesquisa David Klatzmann, da Escola de Medicina Pierre & Marie Curie, de Paris, um dos primeiros cientistas do mundo a isolar e caracterizar o vírus da Aids, o HIV, na década de 1990. 
O pesquisador aponta ainda que o uso das VLPs abre caminho não só para o controle da hepatite, mas também para outras doenças causadas por vírus mutáveis, como a dengue e a Aids.

Epidemia do século
A hepatite é considerada hoje uma epidemia silenciosa, que atinge 3% da população mundial. Como muitos dos infectados não desenvolvem sintomas, acabam transmitindo o vírus para outras pessoas pelo contato com o sangue infectado.
Klatzmann acredita que sua vacina veio em boa hora e alerta para as perspectivas de expansão da doença pelo mundo. “Até o final do século haverá mais pessoas infectadas com hepatite C do que com Aids”, diz. “Precisamos achar um modo de deter a propagação dessa infecção e a nossa vacina parece um bom começo.”
Até o final do século haverá mais pessoas infectadas com hepatite C do que com Aids
Para o médico Giovanni Faria, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), a perspectiva de uma vacina para hepatite é ótima, mas ela será mais bem aproveitada para determinados grupos do que para a sociedade em geral.
“O boom da hepatite foi antes dos anos 1980, quando ainda não se conhecia o vírus; a maioria dos infectados contraiu a doença nessa época”, conta. “Hoje a transmissão é bem menor e se dá principalmente entre os usuários de droga que compartilham seringas. A vacina será mais relevante para esse grupo de risco.”
Atualmente, o tratamento da doença é realizado com a associação de dois medicamentos, o interferon e a ribavirina, e a cura só é obtida em aproximadamente 48% dos casos. 
Ainda assim, o avanço obtido com a vacina vai depender do poder público para se tornar aplicável. Klatzmann acredita que será difícil conseguir recursos junto a empresas privadas para dar continuidade às pesquisas e comercializar a vacina.
“A vacina preventiva contra a hepatite C não é de interesse comercial para as grandes companhias de vacina; não há tanto uso para elas nos países desenvolvidos do Ocidente, que têm recursos para o tratamento da doença”, diz. 
O pesquisador avisa que já busca por financiamento nas agências públicas da França e espera começar os testes clínicos com a vacina em humanos já no ano que vem.

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

Criação de vírus artificial que persegue e inativa o HIV pode revolucionar tratamento da aids


09/08/2011 - 10h30

Usar um vírus para matar outro vírus. Mais especificamente, o HIV, vírus causador da AIDS.

Esta é a ideia do pesquisador Ping Wang, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Dr. Ping e sua equipe criaram um vírus que persegue e marca as células infectadas pelo HIV, o que é promissor para a descoberta de um mecanismo que poderia inativar o HIV no corpo humano.
Esse tipo de vírus artificial agarra as células infectadas pelo HIV, marcando-as com um processo chamado de "terapia genética suicida", ou seja, permite que as drogas possam mais tarde perseguir essas células e destruí-las.
 "Se esgotarmos todas as células infectadas pelo HIV, podemos, pelo menos parcialmente, resolver o problema da ação do vírus no sistema imunológico da pessoa infectada," disse Wang.
Atingir apenas as células afetadas pelo HIV é muito promissor, pois nenhum medicamento antirretroviral consegue esse precisão e acaba afetando muitas células e provocando muitos efeitos colaterais aos pacientes.
 Próximos passos da pesquisa
 Até agora, esse vírus artificial só foi testado em culturas celulares, e alcançou uma taxa de destruição das células infectadas pelo HIV de aproximadamente 35%. Embora essa efetividade pareça baixa, se este tipo de tratamento chegar a ser utilizado em seres humanos, é provável que várias doses tomadas em sequência aumente muito sua eficácia.
O próximo passo agora será testar o procedimento em camundongos, o que permitirá a avaliação da eficácia de múltiplas doses.
 Ainda que seja um avanço importante, estamos longe de falar em uma cura da AIDS, explica Wang. "Estamos ainda numa fase inicial de pesquisa, mas certamente é uma das opções bem interessantes que podemos ter para o tratamento," ressaltou.
 Redação da Agência de Notícias da AIDS com informações do site Diário da Saúde

FDA aprova mais um comprimido diário para tratar HIV

JORNAL FLORIPA - SC
AIDS
10/08/2011

10/08/2011 - FDA aprova mais um comprimido diário para tratar HIV

Reguladores dos EUA aprovaram mais um comprimido diário para tratar a AIDS, da Gilead Sciences Inc"s.
Nesta quarta-feira, o FDA (agência reguladora de remédios e alimentos no EUA) liberou o Complera para pacientes que não receberam tratamento prévio contra o vírus HIV. A droga, que custa US$1.705 por mês, combina o Truvada, da Gilead, com o Edurant, da Johnson & Johnson, aprovado em maio.
A farmacêutica Gilead já vende outro comprimido diário, o Atripla, que combina o Truvada com a Sustiva, da Bristol-Myers Squibb.
A agência reguladora rejeitou o primeiro pedido da Gilead, em janeiro, alegando que não havia informações suficientes.
Também na quarta-feira, a companhia disse que resolveu todas as questões levantadas em uma carta de advertência da FDA. Na época, os reguladores levantaram preocupações sobre problemas de fabricação e qualidade do produto em San Dimas, na Califórnia, onde a Gilead fabrica muitos dos seus medicamentos.
Cerca de 33 milhões de pessoas no mundo têm o vírus da AIDS. A maioria vive na África e na Ásia.

domingo, 7 de agosto de 2011

Pacientes com AIDS sofrem com a falta de exames

Publicada em 06/08/2011 às 18h46m
Carolina Benevides, Leila Suwwan, Marcus Vinicius Gomes, Naira Hofmeister e Letícia Lins

CURITIBA, PORTO ALEGRE, SÃO PAULO, RIO e RECIFE - Portador do vírus HIV há dois anos, Carlos, de 40, tentou em abril fazer um exame essencial para todos os soropositivos e que determina a quantidade de vírus no organismo. Morador de Recife, ele se trata no Hospital Osvaldo Cruz, mas não pôde realizar o procedimento, que, aliado a outros exames, determina quando o paciente deve começar ou mudar o tratamento. Pela falta do kit de carga viral em vários estados do país, o exame de Carlos foi remarcado para quatro meses depois. "Estou muito preocupado, porque normalmente a entrega dos resultados já demora mais de um mês"

- É uma situação horrível. A médica que me atende é excelente, mas fica sem saber o que fazer. Estou muito preocupado, porque normalmente a entrega dos resultados já demora mais de um mês, e eu devia ter feito o exame em abril - conta Carlos, que, por conta da doença, já contraiu toxoplasmose, perdeu a visão de um olho e acabou tendo que parar de trabalhar.
Propagado como o país que tem um dos melhores tratamentos de Aids, o Brasil passa, segundo os pacientes soropositivos, por uma crise. Ano passado, o medicamento Abacavir - prescrito para os casos mais graves - faltou em todo o país e houve relatos da carência de Lamivudina em algumas regiões. Agora, a falta de kits para quantificação de carga viral do HIV é um novo capítulo nos problemas que eles vêm enfrentando.
- É um exame que não pode faltar. Há quem precise fazer até três por ano, isso depende do paciente. Mas todo mundo que recebe o diagnóstico precisa desse monitoramento - diz Veriano Terto, coordenador-geral da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia). - No Rio, a gente começou a identificar a falta do kit no final de junho. Em março, tivemos falta do remédio Atazanavir em alguns estados. O que nos preocupa é que são problemas de gestão que afetam o programa de Aids, que de 2010 para cá tem apresentado falhas repetitivas.
O Ministério da Saúde reconheceu a falta do kit e o estoque reduzido e em 12 de julho assinou a nota técnica nº 197/2011. A nota determina quem deveria ter prioridade e explica que em maio de 2010 foi aberto processo licitatório para a compra e implementação da nova metodologia de quantificação da carga viral, mas que empresas que participaram do processo impugnaram a licitação.

Na época, o ministério determinou, por exemplo, que o exame fosse realizado por determinados grupos, incluindo gestantes e crianças de até 4 anos, e que quem não estivesse nesses grupos tivesse amostra de sangue coletada e congelada para ser processada quanto o estoque fosse restabelecido.

- A impugnação da licitação atrapalhou o processo de compra, e há três meses vimos que teríamos maiores problemas. Divulgamos a nota técnica, depois o ministro (Alexandre Padilha) chegou a dizer que tudo estaria regularizado até o fim de agosto, mas conseguimos antecipar e a rede estará abastecida a partir de segunda-feira - diz Eduardo Barbosa, diretor-adjunto do departamento DST, Aids e Hepatites Virais, lembrando que a falta do exame não prejudica o programa brasileiro: - A epidemia está estabilizada, temos 210 mil em tratamento, que fazem exame de carga viral duas vezes ao ano. Mas é claro que o usuário não tem que entender problema de licitação, de distribuição. Tem que ser atendido.
- O fato da gente ter resultado positivo no tratamento tem tido dois lados: as pessoas têm melhor quantidade e qualidade de vida. Mas tem feito com o que o programa não tenha a importância devida, e isso pode levar a um retrocesso - diz Cristina Moreira, coordenadora de projetos da Viva Cazuza. - A falta dos kits pode ter prejudicado a adesão de alguns pacientes ao tratamento. Já é complicado aderir, aí a pessoa fica sem o resultado e pode parar de tomar o remédio. Ficar sem fazer exame ou sem medicamento também gera estresse, e já é sabido que os pacientes têm o sistema imunológico afetado por conta do estado psicológico.
'Tomo Medicamentos Que Já Não Fazem Efeito'
- Em falência terapêutica - quando o tratamento que combate o HIV não dá mais o resultado satisfatório esperado - Mara Moreira, de 35 anos, teve o sangue congelado em julho, no Rio, por conta da falta dos kits que fazem o exame de carga viral.
 
- Na consulta de maio, eu já soube que ia ter que trocar a medicação. Daí, fiz o exame, mas como não tenho o resultado ou um prazo, fico angustiada. É ruim porque tomo medicamentos que já não fazem efeito. Outros exames apontaram o aumento da carga viral e a troca dos remédios já está sendo prorrogada demais - conta ela, que é professora aposentada e voluntária do Pela Vidda.

Soropositivo há 20 anos, Aguinaldo José Gomes, de 50, conta que se sentiu obrigado a optar por um plano de saúde para "impedir que o vírus tomasse conta de sua cabeça e de sua vida". Vivendo em São Paulo, ele passou dois anos sem saber a quantidade de vírus que circulava em seu sangue e isso o fez insistir no uso de um medicamento que causou um grave efeito colateral: dores e formigamento nas pernas.

- Alguns medicamentos faltam, e é feito o chamado fracionamento. Os médicos pedem o exame de carga viral só duas vezes ao ano, mesmo sabendo que isso não é o ideal. O plano de saúde me dá paz de espírito - diz Aguinaldo.

Ex-garota de programa, C.E.B., de 36 anos, reside em Maringá, e fez o último teste de carga viral em abril. A falta do kit em sua cidade a deixou bastante preocupada: - Quando o resultado da carga viral demorava seis meses para ser conhecido, cheguei a tomar até 29 comprimidos por dia, e os efeitos foram devastadores. Eu tinha dificuldade de me alimentar. Fico preocupada que demore para restabelecer o exame e que eu fique exposta a todo tipo de doença oportunista.
Vice-presidente do Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS (Gapa/RS), Carlos Alberto Duarte diz que a falta do kit cria um "prejuízo imenso e incalculável", e lembra que no Rio Grande do Sul, a demora para conseguir agendar o exame é antiga: - É comum conseguirmos fazer apenas um exame por ano, enquanto o próprio Ministério da Saúde orienta que se repita a cada quatro meses.

Campanha Nacional de Tuberculose